21 de janeiro de 2019

Brasil tem quase seis milhões de idosos endividados

Quando um navio de cruzeiro, de linha internacional, aporta no cais do Porto de Salvador, a primeira impressão que fica, em quem acompanha a descida dos passageiros - sempre radiantes com a viagem -, é que os idosos, realmente, estão podendo! Entretanto, para quem acompanha as notícias do Brasil, especialmente, as que tratam dos índices de inadimplência, é, simplesmente, de cortar o coração, tomar conhecimento dos números que seguem.
Em 2018, a estimativa é que o país tenha fechado o último mês de dezembro com aproximadamente 62,6 milhões de brasileiros com alguma conta em atraso e o CPF restrito para contratar crédito ou fazer compras parceladas. Esse número representa 41% da população adulta que reside no país.
Entre os inadimplentes 5,6 milhões são idosos com idade entre 65 e 84 anos. Idade igual ou semelhante aos passageiros dos transatlânticos que chegam cheios de energia para conhecer Salvador e as suas belezas naturais.
Os dados foram apurados e divulgados na última terça-feira 15, pelo Indicador de Inadimplência da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Entre as explicações plausíveis apresentadas por especialistas uma se destaca: “Falta educação financeira e uma cultura previdenciária, o que estimula o crescimento do número de beneficiários e também das dívidas contraídas no empréstimo consignado junto às instituições bancárias”.

Endividamento
Uma das regras do empréstimo consignado estabelece que a parcela mensal não pode superar 30% da renda mensal líquida do contratante.Contudo, apesar da regulamentação prevista, observa-se que alguns idosos acabam se endividando de forma que comprometem sua renda e não conseguem muitas das vezes adquirir os bens necessários para sua sobrevivência.Desde que foi autorizado, em 2003, pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o crédito consignado aumentou significativamente ano a ano.
Ainda segundo os mesmos estudiosos os idosos acabam se endividando no crédito consignado,em nome da família. “Em uma casa em que há pessoas na informalidade; desempregadas e sem renda; o único CPF capaz de comprovar renda, é o do aposentado. Então, é ele quem vai para linha de frente pedir financiamento”.

Devedores
Conforme o estudo “das cinco regiões brasileiras, quatro delas apresentaram alta da inadimplência no encerramento de 2018. ONordeste com 1,62%. A única exceção foi o Centro-Oeste, onde se observou uma queda de -1,79%.
Em termos absolutos, é na região Sudeste em que se concentra a maior quantidade de consumidores com contas em atraso: 26,65 milhões – número que responde por 40% do total de consumidores que residem nesses Estados. A segunda região com maior número absoluto de devedores é o Nordeste, que conta com 17,01 milhões de negativados, ou seja, 42% da população.

Comprometimento
A aquisição de empréstimo consignado, embora não implique endividamento, significa comprometimento da renda. De acordo com oINSS, dos 33,8 milhões de beneficiários, 20,05 milhões têm operações com desconto em folha. E esse grupo de pessoas já devealgo, em torno de R$ 102,3 bilhões às instituições financeiras, segundo dados do Banco Central (BC).
Nos últimos anos, esta operação é considerada a ‘galinha dos ovos de ouro’ das instituições financeiras. Elas têm a garantia de receber o pagamento diretamente do governo. No entanto, a facilidade para conseguir um empréstimo consignado é uma armadilha para quem não controla as finanças. “Em muitos casos, os segurados fazem operações que chegam ao limite da margem consignável, e não se dão conta de que a renda diminuirá significativamente, no passar dos anos”, explicam.

Emergência
Eles recomendam, inclusive, que o consignado não deva ser usado pelos beneficiários do INSS para consumir, mas somente em caso de emergência.
Segundo recentes estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil terá nos próximos 20 anos uma população acima de 60 anos passando dos atuais 22,9 milhões para 88,6 milhões. E que a expectativa média de vida deverá aumentar dos atuais 75 anos para 81 anos.
Por outro lado, dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) dizem que a aposentadoria tem se transformado na única fonte de renda em milhões de famílias brasileiras.
E argumenta: “A realidade do idoso, enquanto chefe de família no Brasil, faz com que o filho adulto (quando termina o casamento ou fica desempregado) acabe voltando para a casa dos pais.E ele,com espírito solidárioassume os seus familiares (pessoas que vivem com ele e que não estão conseguindo se manter).

Resumo da ópera
O consumidor idoso que se torna superendividado está quase sempre imbuído do desejo de satisfazer carências imediatas; atender aos pedidos de familiares; ou ainda é mal orientado. Contratam o empréstimo consignado e rapidamente são engolidos por um turbilhão de consequências por ele não imaginadas que, gradativamente, dificultam o pagamento de suas contas.O processo de endividamento culminará na impossibilidade de quitação das dívidas, levando-o à aquisição de novos empréstimos para quitar os anteriores.




*Tribuna da Bahia

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