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Foto: Reprodução/Rafapress/Shutterstock |
A indicação de queda na abertura das bolsas norte-americanas nesta quinta-feira (8), após alta ontem, e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro acima do esperado impedem o Ibovespa de subir na esteira das commodities. Também existe uma avaliação de que esse qualitativo menos benigno reforça o tom de cautela que o Banco Central tem adotado, mantendo a comunicação de que o atual ritmo de cortes de 0,50 ponto percentual na taxa Selic é o mais apropriado.
Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, destaca que a variação de 0,42% do indicador em janeiro veio acima da mediana do mercado (0,34%) e da previsão da gestora de ativos, que estimava uma alta de 0,39%. “A surpresa mais desconfortável foi nos serviços subjacentes, que tiveram uma alta bastante expressiva”, comenta.
O petróleo avança em torno de 1,00%, diante das tensões no Oriente Médio. O minério de ferro fechou com elevação de 2,39% em Dalian, na China, a poucos dias do feriado chinês, que começa no dia 10. Às 11h07, as ações da Vale subiam 0,46% e as da Petrobras zeravam a alta.
O Índice Bovespa cedia 0,25%, aos 129.622,52 pontos, ante recuo de 0,35%, com mínima aos 129.497,45 pontos, depois de subir 0,14% (máxima aos 130.125,92 pontos). Ontem, fechou em baixa de 0,36%, aos 129.949,90 pontos, após ter retomado no dia anterior o nível dos 130 mil pontos. O avanço da taxa de inflação mais do que o previsto influencia negativamente algumas ações ligadas ao consumo, dada a alta já vista nos juros futuros.
Segundo o economista André Perfeito, “houve piora qualitativa do índice”, com os núcleos apresentando certa aceleração e a dispersão mantendo-se em nível elevado. A despeito da aceleração, Perfeito reitera em nota seu cenário de Selic em 9,75% ao final do ciclo. O economista explica que, se de um lado o IPCA tende a ficar relativamente estável, por outro, “a dinâmica do mercado de trabalho tende a pressionar serviços”.
A Totvs (TOTS3) reportou na última quarta-feira (7) resultados do quarto trimestre de 2023 (4T23) que desagradaram os investidores e analistas de mercado, principalmente pelo contraste com os dados fortes do trimestre anterior, que levaram o papel a uma alta de 30% apenas em novembro do ano passado. Com uma leitura diferente desta vez, as ações TOTVS caíam 8,65%, a R$ 30,01, às 10h40 (horário de Brasília) desta quinta-feira (8). Na mínima do dia, os papéis caíram 9,44%, a R$ 29,75.
A margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) da divisão de Gestão foi a principal culpada, com compressão para 23,3% (versus 25,6% no 3T23), devido ao maior nível de despesas com marketing e vendas e reajustes salariais. O resultado de Business Performance também foi fraco, com Ebitda de R$ 2 milhões, que já inclui um ajuste para cima devido a um aumento ‘extraordinário’ de R$ 40 milhões nas despesas de earn-out (cláusula contratual adotada em operações de fusões e aquisições de empresas que prevê um pagamento adicional condicionado a resultados futuros do negócio) da Tallos. “Por último, os resultados da Techfin também foram pouco inspiradores, com uma forte redução sequencial no NII (receita de intermediação financeira)”, ressalta o banco.
Andrea lembrou, no entanto, que essa variação ainda tem um componente inercial, de reajustes anuais “gregorianos” de serviços que usam como base o IPCA de 12 meses de dezembro. “A gente ainda mantém uma visão mais construtiva de que, a partir do mês que vem, deve começar uma descompressão dos serviços subjacentes. Esses itens desacelerarão, principalmente em março”, prevê. O Itaú, por sua vez, chamou atenção também para a surpresa de alta no mês nos preços industriais subjacentes, puxados por higiene pessoal e vestuário. Nos serviços subjacentes, o banco destacou a aceleração de serviços bancários.
“Na média móvel de três meses, com dados dessazonalizados e anualizados, os serviços subjacentes aceleraram para 5,3% (de 4,3%), enquanto o núcleo de industriais subjacentes acelerou para 1,8% (ante-1,6%)”, compara o Itaú. Na mesma métrica, a inflação de núcleos subjacentes acelerou para 1,6% nessa média móvel trimestral, de 1,3% em dezembro.
Mão de obra
A opinião de Leonardo Costa, economista da ASA Investments, é parecida. “Os serviços foram o grande destaque negativo da leitura de janeiro, mais pressionados por itens de mão de obra e recreação. A sazonalidade dos subjacentes de serviços é desfavorável no começo do ano, mas a taxa do primeiro mês de 2024 foi ainda pior”, comenta.
A XP, por sua vez comenta que a alta mensal dos serviços subjacentes superou as expectativas internas, de 0,64%, e que a média móvel trimestral anualizada e ajustada sazonalmente disparou de 4,2% para 5,4%, a maior leitura desde junho de 2023. Esse movimento teve bastante influência de subitens como aluguel de carros e serviços bancários, além dos serviços intensivos em mão de obra, que aceleraram de 5,1% para 6,0% na mesma métrica, reforçando as preocupações apresentadas na última ata do Copom.
“Se nossa previsão se confirmar, os serviços deverão atingir o pico no 1º trimestre de 2024, mas acomodando-se em torno de 4% no 2º semestre, portanto, acima de 3%”, comenta a equipe de análise macro da XP.
Clima afeta alimentos
Sobre os alimentos, embora o grupo e alimentação do domicílio tenha desacelerado ante os dados recentes do IPCA-15, a alta de 1,8% em termos mensais em janeiro foi, muito superior aos valores de janeiro de 2023 (+0,60%). “As coletas de preços indicam que essa pressão deverá se dissipar parcialmente em fevereiro”, afirma o relatório.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, tem uma visão similar. “Historicamente, os preços dos alimentos sobem nesta época do ano. Mas a alta de agora veio mais forte do que nos meses de janeiro dos anos anteriores, muito provavelmente por conta dos efeitos climáticos do El Niño sobre produtos in natura”, explica.
Ela espera que a inflação oficial continue acima do centro da meta em 2024, principalmente pela desaceleração lenta dos preços dos serviços, que sofrem a influência do mercado de trabalho aquecido, concluiu publicação do portal InfoMoney.
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