Já com o motor e a sirene ligados, uma ambulância está pronta para sair em socorro de um baleado grave. O clique da fechadura do veículo, do lado de fora, desperta a atenção dos ocupantes. É o sinal de que algo está prestes a sair da rotina. O objetivo seria partir às pressas da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Costa Barros até um hospital de emergência. A vítima, atingida por três tiros, corre risco de morrer. A porta da ambulância é aberta. Dois jovens, de bermudas, sem camisas, ostentando cordões e pulseiras de ouro, metem seu armamento pesado para dentro do carro. Um deles berra, se dirigindo ao paciente: “Tu é alemão, tu é alemão! Vou te picar todo!”. Entre o ferido e os traficantes, uma experiente enfermeira tem um fuzil apontado para o peito. De imediato, ela entende a mensagem: o baleado morava numa favela rival a dos
traficantes e a sentença dele é a morte.
traficantes e a sentença dele é a morte.
As fronteiras criadas pelo tráfico em áreas de exclusão social do Rio fazem com que servidores da saúde, que trabalham em algumas UPAs 24 horas, se “adaptem”. A expressão é usada pelos próprios funcionários. Na UPA de Costa Barros, situada no meio de territórios dominados por facções rivais, médicos e enfermeiros só podem atender pacientes de um dos grupos, o que controla a unidade. Os demais são obrigados a se deslocar até a UPA de Ricardo de Alburquerque. Na UPA da Maré, o acesso de moradores de parte das comunidades é vetado por traficantes da facção que domina a Vila do João, área em que está a UPA. Situadas em áreas de risco, as UPAs da Vila Kennedy e Manguinhos são alvo dos tiroteios, enquanto as do Alemão e da Cidade de Deus tiveram que mudar protocolos para, sem estrutura hospitalar, atender baleados em confrontos. (oglobo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário